Cresce o ensino técnico


Arnaldo Niskier

Medida Provisória não é o ideal para reformar a educação, mas se fôssemos esperar por uma ação legislativa íamos ter que aguardar muito tempo.
Foi o que levou o ministro Mendonça Filho a assinar a MP de 23/9/16, graças a Deus escoimada das restrições iniciais a quatro disciplinas que não deveriam ser cortadas do
currículo: Artes, Educação Física, Sociologia e Filosofia.
 
Valorizando Português, Matemática e Inglês, o novo instrumento legal deixa entreaberta a porta para outras matérias essenciais, como Robótica, Criação Literária e Software. É sinal dos novos tempos que vêm por aí, caracterizando a necessária flexibilização de que tanto se fala. O aluno, a partir do ano letivo de 2018, passará a dispor de uma oferta mais inteligente de currículo. 
Espera-se que tais correções aconteçam na discussão definitiva da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) – e que isso venha com a brevidade possível.
 
O certo é o MEC sozinho não vai muito longe. Precisa do indispensável apoio das Secretarias Estaduais de Educação, às quais incumbe zelar pelo ensino médio. Veja-se que, em nível nacional, dois Estados estão se destacando:
Pernambuco e Amazonas. Por que isso? Simplesmente porque implantaram pioneiramente o tempo integral em seus respectivos sistemas. Funcionam em boa parte das escolas no horário elástico das 7 às 17h30, o que é uma notável conquista, que já vai
sendo seguida também por Piauí e Goiás. É disso que mais precisamos para ter os fundamentos da renovação pretendida.
 
Segundo o MEC, Pernambuco tem hoje mais de 40% da rede de ensino médio em tempo integral e saltou do 21º lugar do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Idep) em 2007 para o 1º lugar na última divulgação de resultados
de 2015. É por aí que se deve seguir o caminho iniciado, naturalmente com apoio federal do ponto de vista financeiro, pois sem recursos não se vai longe. Segundo o
sonhado Plano Nacional de Educação, prevê-se alcançar 25% de tempo integral na educação básica até 2014, o que é meta bastante razoável.
 
Todo esse trabalho será desenvolvido numa intensa parceria com os sistemas estaduais de educação, que respondem por 97% das matrículas do ensino médio público. A eles caberá indicar quais as disciplinas que deverão ser ofertadas na metade aberta do currículo, dentro das seguintes áreas determinadas:
 
Linguagens, Matemática, Ciências Sociais e Humanas, Ciências da Natureza e Formação técnica profissionalizante. Quem já tiver conhecimentos de Inglês e Informática, por exemplo, poderá ser liberado ou pular de série, a fim de ganhar tempo.
 
E a segunda língua estrangeira moderna, que já foi o Francês, será agora o Espanhol, para facilitar negócios com os nossos vizinhos.
 
Esses fatos coincidem com o centenário de “Democracia e Educação”, obra lapidar de John Dewey, que foi o livro de cabeceira de Anísio Teixeira na sua temporada nos Estados Unidos. Aos professores toca a responsabilidade de dizer tudo aos seus alunos, desnudando todas as visões, a fim de que eles possam escolher livremente o caminho a seguir, sem amarras. Isso volta hoje com força total.
 
A nova escola média precisa de horários extensos, mas não dispensa laboratórios, quadras e auditórios. Deve experimentar o uso das salas de aula invertidas, a fim de dar ao professor a possibilidade de orientar a aprendizagem, muito mais do que dirigir de cima para baixo o processo de aprendizagem. Será de extrema utilidade que se empregue a “pedagogia do diálogo”, na relação entre alunos professores, como nos aconselha o educador português Antonio Nóvoa.
 
E nessa viragem que se faz necessária, temos o imenso potencial da educação à distância para explorar devidamente, de forma competente.
 
Desde que foi implantada em 1996, a EAD chegou a 1 milhão 700 mil estudantes, prenunciando um crescimento consistente daqui pra frente. Seria uma pena que desperdiçássemos, num país tão grande, essa oportunidade talvez única.