A Civilização do Cacau


Arnaldo Niskier

Jorge Amado e Paulo Coelho (que eu recebi na ABL) são os dois autores brasileiros de maior venda no exterior. O primeiro deles, que conheci muito bem, viveu nos limites de Ilhéus e Itabuna, no Sul da Bahia, onde se implantou a civilização do cacau. Na região, ergue-se,  hoje,  uma grande universidade com milhares de alunos – e na qual tive o privilégio de fazer conferência sobre Educação.
 
O amor e a morte estão no centro de toda a obra de Jorge Amado, erguida entre trabalhadores e jagunços, como se prova no “Terras sem fim”. Entre jagunços, aventureiros e jogadores o menino cresceu e aprendeu  antes de ir à escola, nas páginas do jornal “A tarde”. Passou tardes inteiras peruano pôquer, em companhia do tio Álvaro.
 
Assim nasceram os inúmeros personagens de sua vasta obra de ficção. São os coronéis do cacau, cada qual querendo exibir riqueza maior. Como disse em “O menino grapiúna”, Jorge Amado passou muitos anos internado no Colégio dos Jesuítas. Foi lá que encontrou nas “Viagens de Gulliver” o seu encontro com os caminhos da libertação. E aprendeu a valorizar  a língua portuguesa. Foram dois anos de aprendizado.
 
Em 1961, Jorge Amado entrou para a Academia Brasileira de Letras, “onde procurei cada vez mais ser um escritor baiano. Na ocasião já  falava em 29 títulos, em 684 edições brasileiras, em 260 traduções diversas em 38 idiomas (47 países). Essa a performance que só veio a ter paralelo, anos depois, com o sucesso de Paulo Coelho. De Jorge Amado disse o genial Oscar Niemeyer: “O primeiro livro dele que li foi “Jubiabá”. E li todos os outros com mesmo interesse, uma literatura viva, espontânea, cheia de imaginação e poesia. De todos os seus livros, o texto da minha preferência é “Quincas Berro d’Água.
 
Foi com um prazer imenso que, anos depois, encontrei  com ele e a sua querida Zélia Gattai na Academia Brasileira de Letras. Sempre ia lançar um livro, como aconteceu com “Gabriela, Cravo e Canela”, cedia o livro em primeira mão para que publicássemos resumos na revista “Manchete” – e isso era um fator seguro de aumento nas vendas. O casal tornou-se muito amigo compareceram inclusive  no casamento do meu filho Celso, foi  um convívio extremamente agradável.